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Euroimmun News A relevância da Proteína P Ribossomal na estratégia diagnóstica de Lúpus

A relevância da Proteína P Ribossomal na estratégia diagnóstica de Lúpus

23 de Setembro de 2024
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A trajetória diagnóstica da doença inclui exames de imunofluorescência e outros com metodologia ELISA, como o anti-P; acompanhe a entrevista com Luiz Carlos Latorre, médico especialista do Núcleo Avançado de Reumatologia do Hospital Sírio Libanês

Por equipe EUROHub, centro de geração e disseminação do saber científico da EUROIMMUN Brasil*

 

O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença inflamatória crônica, de origem autoimune, que afeta uma em cada 1.700 mulheres no Brasil. Até hoje, representa um desafio para a ciência e a medicina, pois, entre outros motivos, suas causas ainda têm origem desconhecida. Nesse ponto, porém, podemos estar próximos de uma importante descoberta.

Um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos da empresa Northwestern Medicine e do hospital Brigham and Women’s Hospital identificou mudanças em moléculas sanguíneas de pacientes com lúpus, o que provocaria uma resposta celular insuficiente à exposição de poluentes ambientais, bacterianos e metabólicos. O trabalho foi publicado em julho de 2024 na revista Nature e ajuda a responder algumas perguntas sobre os gatilhos para a doença.

Os desafios apresentados pela doença permeiam ainda o campo diagnóstico, já que as inúmeras manifestações do lúpus, sejam elas cutâneas ou sistêmicas, demandam uma investigação bastante criteriosa antes da confirmação do quadro. Nesse sentido, a estratégia diagnóstica prioriza uma boa anamnese de cada paciente, como explicou Dr. Luiz Carlos Latorre, reumatologista membro do Núcleo Avançado de Reumatologia (NARE) do Hospital Sírio Libanês (SP) e ex-Presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia (2010-2011), ao EUROHub.

Segundo ele, o quadro clínico apresentado por cada paciente é o que vai definir a melhor estratégia diagnóstica para a confirmação ou o afastamento da hipótese de lúpus. “No início, os sintomas sistêmicos do lúpus podem se confundir até mesmo com os de uma simples virose e, por isso, não é incomum o diagnóstico correto ser retardado”, diz o especialista.

No entanto, existem manifestações clínicas características do lúpus que podem ajudar a estratégia diagnóstica, entre elas manifestações de pele e de fotossensibilidade, fraqueza muscular intensa (chamada de adinamia) e febre. “Para auxiliar no diagnóstico, o médico reumatologista também usa os critérios de classificação da doença, o chamado critério EULAR/AC, que soma um peso a cada sintoma clínico e laboratorial apresentado pelo paciente. É a partir disso que ele pedirá os exames laboratoriais necessários para a confirmação”, explica Latorre.

“Todos os exames laboratoriais solicitados precisam da interpretação do médico reumatologista a partir dos sintomas clínicos, e não apenas da análise do resultado. Isso porque muitos deles são tão sensíveis que podem ter resultado positivo em pessoas sem a doença” 

Luiz Carlos Latorre, reumatologista membro do Núcleo Avançado de Reumatologia do Hospital Sírio Libanês (SP)

 

Uma trajetória diagnóstica

A evidência clínica, portanto, deve ser o ponto de partida para trilhar a solicitação de exames laboratoriais. “Algumas alterações do hemograma e do exame de urina, por exemplo, já podem trazer informações úteis sobre a quantidade de proteína na urina ou de função renal. Ainda assim, exames imunológicos são fundamentais para a investigação do Lúpus”, descreve o médico.

O primeiro screening a ser feito é o teste de Fator Antinuclear, o FAN, realizado pelo método de imunofluorescência indireta em célula Hep 2, mas que, por ser um exame muito sensível, pode ter um resultado falso positivo. “O importante do FAN para o lúpus é a sua titulagem e o padrão apresentado. Isso porque alguns padrões são incaracterísticos do lúpus e, por isso, oferecem informação importante ao diagnóstico, como o padrão pontilhado fino denso que  cora a placa. Já padrões homogêneos e periféricos sugerem a qual anticorpo está sendo dirigido”.

O resultado do FAN pode ajudar o médico a identificar qual antígeno na célula está envolvido no quadro e, por isso, ele é um teste bastante relevante. “O padrão homogêneo pode estar envolvido com o anti-dsDNA ou anti-Histona. Já o pontilhado grosso sugere ou o próprio lúpus ou uma doença mista do tecido conjuntivo, eventualmente até uma esclerose sistêmica. Nesses casos é preciso pedir testes anti-RNP ou anti-Sm para investigar outros antígenos que possam comprovar o lúpus”, conta Latorre.

Em tempo, o teste anti-Sm é bastante específico para o lúpus, ou seja, um resultado positivo comprova a existência de anticorpos para a doença.


E a Proteína P Ribossomal, quando deve ser usada?

O teste de anticorpos anti-ribossomal P (anti-P), por sua vez, é feito pela metodologia ELISA e também considerado bastante específico (chega a 99% de especificidade).  “Isso significa dizer que a pessoa que não tem lúpus nunca terá esse teste positivo. O problema é que ele não é muito sensível e a prevalência da proteína R Ribossomal é por volta de 20 a 25% dos pacientes”, explica o médico, citando a sua experiência clínica com a aplicação do teste.

 
Nota do EUROHub

Quando o teste de proteína R Ribossomal dá positivo, há 99% de chance de que o paciente tenha lúpus. Um resultado negativo, no entanto, não significa que o paciente esteja livre da doença. Isso porque esse antígeno aparece entre 5% e 46% das pessoas com lúpus, de acordo com a bula do teste produzido pela EUROIMMUN.

 
Alguns dados do paciente podem incentivar a tomada de decisão do médico por pedir o teste anti-P.  “Por exemplo quando os sintomas clínicos sugerem o lúpus, mas o FAN retorna com padrões incaracterísticos da doença, como um citoplasmático pontilhado fino. Nesses casos, o anti-P ajuda a investigar anticorpos quando outros padrões não são detectados”, pontua Latorre.

Segundo o reumatologista, o uso do anti-P também pode ser indicado para pacientes que têm lúpus já diagnosticado e precisam entender o estágio de atividade da doença: “No entanto, falta ainda um consenso de que esse anticorpo possa ser usado para detectar atividade da doença. É preciso que haja mais estudos para confirmar essa conduta”.

*centro de geração e disseminação do saber científico da EUROIMMUN Brasil


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