Realizado em 2024, o trabalho traz contribuição relevante para estudo epidemiológico das arboviroses no País e a definição de políticas públicas de saúde
Nos últimos meses, a cada nova publicação do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, o alerta é ainda mais evidente: estamos diante de mais uma epidemia de dengue no Brasil neste 2025. E com o agravante de que o pico dos casos - que historicamente acontecem nos meses de março e abril - podem explodir a partir de janeiro.
Foi exatamente isso o que aconteceu em 2024, segundo os achados do estudo “Aumento de casos de DENV, ZIKV e CHIKV no Brasil em 2024: Um estudo soroepidemiológico”, realizado pelo DB Diagnósticos em parceria com a EUROIMMUN Brasil. O trabalho foi conduzido pelas pesquisadoras Erica Cardozo, coordenadora de educação continuada do DB, e Juliana Muggiati de Abreu, supervisora operacional ELISA e Imunofluorescência na mesma instituição, com participação de Michel Soane, MSc, PhD, gerente sênior de assuntos científicos da EUROIMMUN, representando o EUROHub.
Para chegar a essa conclusão, foram analisadas 117.909 amostras provenientes do DB. Os dados colhidos nos exames laboratoriais apontaram o aumento expressivo da incidência dos arbovírus no País: “Como o DB é um laboratório privado presente em todo o Brasil, resolvemos comparar se os nossos dados coincidiam com os do Ministério da Saúde, publicados nos Boletins Epidemiológicos”, conta Erica Cardozo.
As mudanças climáticas que acometem o Brasil e o mundo têm sido apontadas como uma das causas para o aumento dos casos de arboviroses no País. Em 2023, por exemplo, o pico dos casos de zika vírus, chikungunya e dengue aconteceu a partir de fevereiro, mas isso tem mudado de 2024 para cá, fazendo com que a explosão dos casos seja mais precoce. “Monitorar esses picos, por meio dos exames laboratoriais realizados no DB e dos resultados de IgM [um marcador da fase aguda da doença], tem sido importante também para que possamos atender melhor os nossos clientes. Se há aumento na busca de exames, temos que estar preparados para ela”, resume Juliana, supervisora operacional do DB.
O DB Diagnósticos atingiu a marca de 22 milhões de exames realizados e, desses, um número expressivo de exames de arboviroses. Por isso, tem sido possível realizar um estudo comparativo com os resultados encontrados no laboratório privado daqueles captados pelos laboratórios que reportam ao Ministério da Saúde
O estudo marca a primeira parceria entre o DB e a EUROIMMUN Brasil para a condução de uma investigação científica no Brasil. “O DB possui 13 anos de história, mas foi só a partir de 2022, depois da pandemia, que ficou mais evidente a necessidade de nos fortalecermos como uma autoridade científica em medicina diagnóstica. Para isso, montamos o departamento de educação continuada, voltado à qualificação de nossos colaboradores, e começamos a nos envolver em pesquisas e análises de dados buscando parceiros como a EUROIMMUN, que já são bem sedimentados no conhecimento científico”, explica Erica.
Outro ponto a favor da parceria, como lembra Juliana Muggiati de Abreu, é que as metodologias ELISA e imunofluorescência são muito específicas e, por isso, ainda são poucos os laboratórios nacionais que possuem o conhecimento necessário para a condução de uma investigação científica como esta. “No caso de ELISA, a literatura na metodologia também é bastante escassa e o embasamento científico é feito com base no conhecimento adquirido na bancada”, diz a especialista.
Na parceria para o estudo de arboviroses, os dados dos exames laboratoriais foram coletados pelo DB e o EUROInstitute, laboratório da EUROIMMUN Brasil, que ficou encarregado de analisar e interpretar os resultados. Tudo, portanto, foi feito a quatro mãos
Os dados dos exames laboratoriais analisados no estudo foram coletados pelo sistema Matrix e precisaram passar por uma filtragem realizada manualmente pelos pesquisadores, para que fossem selecionadas as áreas exatas de localização dos pacientes. “Nós filtramos os dados a partir dos Estados brasileiros para poder agregar esse tipo de informação geográfica ao monitoramento”, destaca Juliana.
Já as amostras, mesmo sendo mais perenes, tinham um tempo certo para serem analisadas sem sofrer interferência no resultado e, por isso, foram utilizados dados de três unidades-espelho do DB, localizadas em pontos estratégicos do Brasil: Sorocaba (SP), Recife (PE) e São José dos Pinhais (PR). “Além disso, as unidades da DB serviram de suporte umas para outras para que a estabilidade da amostra fosse mantida”, explica Erica, evidenciando a capilaridade do laboratório.
A equipe da EUROIMMUN Brasil, por sua vez, foi responsável por fazer as correlações dos dados e sua análise. “Os dados levantados pelo DB são muito padronizados e precisos, e isso é importante do ponto de vista soroepidemiológico brasileiro, porque traz uma enorme segurança da informação”, enfatiza Michel Soane. Isso é fundamental porque, embora as arboviroses sejam doenças de notificação compulsória, nem sempre os laboratórios privados notificam o Ministério da Saúde como deveriam, causando ruídos e subnotificação no cenário nacional dessas doenças.
“Se as ações de saúde pública e aquelas direcionadas aos laboratórios privados passarem a ser baseadas em informações mais seguras, como essas que levantamos no estudo e a partir das predições anuais que podem ser realizadas com base nessa rede de dados, as políticas serão mais assertivas”, sugere Soane. Ele adianta que, baseado nesse primeiro trabalho, o empenho da EUROIMMUN Brasil para 2025 está em realizar um projeto maior de soroepidemiologia, juntando uma força-tarefa no ecossistema de medicina diagnóstica para manter esse tipo de monitoramento no Brasil. “A força desses dados sobre as arboviroses no Brasil tem potencial de complementar os Boletins Epidemiológicos do Ministério da Saúde”, acredita.
O maior desafio do trabalho foi a compilação dos dados e sua análise, uma vez que o volume de informações assertivas e segura era muito grande, graças à capilaridade do DB Diagnósticos
Os resultados encontrados no trabalho do DB e da EUROIMMUN Brasil foram semelhantes aos do Boletim do Ministério da Saúde no início do pico dos casos no País: em janeiro de 2024, o número de casos já havia excedido o ano anterior. No entanto, pela diferença no perfil dos pacientes - de laboratórios privados versus públicos - algumas divergências foram notadas. “Em primeiro lugar, percebemos um aumento dos casos de chikungunya na região Norte do país, em relacão a 2023, e não no Sul e Sudeste, como o senso comum prevê. E como investigamos IgM, que indica a infecção aguda, isso pode significar um número maior de vírus circulante nessa localidade”, relata Soane. “O vírus Mayaro, que é da mesma família do chikungunya, não foi investigado nesse trabalho, mas esse pode até ser um indicativo de que sua circulação aumentou nessa região”.
“Em primeiro lugar, percebemos um aumento dos casos de chikungunya na região Norte do país em relação a 2023, dado este que também se reproduziu na análise de dengue e zika. Como investigamos anticorpos da classe IgM, que indica a infecção recente, isso pode significar um número maior de vírus circulante nessa localidade”, relata Soane. “Embora não investigado nesse estudo, dado o chikungunya ser da mesma família, o vírus Mayaro também pode estar circulando nessas regiões e, portanto, estudos futuros podem tê-lo como alvo investigativo, assim como estudos direcionados ao Oropouche”.
Por fim, diante dos indicadores que sugerem que, em 2025, os casos de dengue aumentarão ainda mais no Brasil como um todo, os três especialistas indicam ações para a educação da população como prioridade: “Dados como o que encontramos pode ajudar os governantes a fazer isso a partir de evidências de onde há mais riscos de as pessoas adoecerem”, diz Juliana. Erica completa: “Isso vai evitar que os hospitais públicos fiquem abarrotados de pacientes com a doença em sua forma grave.”
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