Quão adequada é a memória imunológica do brasileiro em idade adulta em resposta às principais vacinas aplicadas durante a infância? Esta pergunta foi o ponto de partida para um estudo que está sendo conduzido por alunos dos cursos de Farmácia e Biomedicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), em parceria com a EUROIMMUN Brasil, e que visa fazer uma triagem da população da cidade de São Caetano do Sul para a avaliação de anticorpos contra rubéola, caxumba, sarampo, varicela zoster, tétano, difteria e coqueluche. Além do acompanhamento do status vacinal da população, também será feito um levantamento sorológico de doenças não incluídas no Programa Nacional de Imunizações (PNI), como a toxoplasmose e a citomegalia, que fazem parte de um importante grupo de doenças que podem ser transmitidas durante a gestação.
Durante a fase de pesquisa, os 375 voluntários foram divididos em cinco diferentes grupos, a partir de suas faixas etárias - entre 18 e 27 anos, entre 28 e 37 anos, entre 38 e 47 anos, entre 48 e 57 anos e acima de 58 anos - e suas amostras estão sendo analisadas pelos próprios alunos, dentro do laboratório da EUROIMMUN Brasil.
‘Será que as vacinas que tomamos durante a infância ainda estão viáveis,
ou seja, será que ainda há a presença de anticorpos de proteção contra
essas doenças quando chegamos à idade adulta?
Essa é a resposta que queremos dar a partir desse estudo’
Patrícia Montanheiro, professora e coordenadora do Laboratório de Análises Clínicas da USCS
Para a correta detecção de anticorpos contra os patógenos, um teste ELISA está sendo realizado. No entanto, esse mesmo estudo está aproveitando a oportunidade para testar se há diferença nos resultados quando diferentes amostras são usadas: a amostra de soro ou plasma padrão e, ainda, amostras colhidas em um papel filtro especial no qual a gota de sangue seco do paciente (DBS, do inglês dried-blood-spot) se mantém estável em temperatura ambiente por até 15 dias, até que o exame seja realizado.
Patrícia Montanheiro, professora e coordenadora do Laboratório de Análises Clínicas da USCS, comenta que essa etapa da análise clínica dos resultados vai ajudar a avaliar, especialmente, a viabilidade do teste ELISA feito a partir do DBS, uma tecnologia que tem potencial de facilitar a coleta de exames em áreas remotas, ou onde não há geladeiras para o armazenamento de amostras. “A depender dos dados obtidos por nós durante a pesquisa, será possível afirmar se o resultado do exame tem a mesma eficácia mesmo se for feito apenas com um pequeno furo no dedo para a coleta de uma gota de sangue", conta a especialista.
O resultado do estudo também vai abrir portas para que se aumente o número de voluntários na triagem e seja possível estudar a necessidade de doses vacinais de reforço contra determinadas doenças anos após a imunização ocorrida na infância. “Com uma amostragem maior, será possível repensar até mesmo o programa nacional de imunização para que a prevalência sorológica da população permaneça sempre alta”, acredita Patrícia.
A relação aproximada entre uma multinacional e uma instituição de ensino costuma render bons resultados para toda a comunidade. Do lado do ensino, fica clara a oportunidade dos alunos terem acesso facilitado à alta tecnologia presente na indústria já durante suas fases de estágio.
Além disso, projetos desse tipo também podem funcionar como uma iniciação científica para os estudantes, como lembra Patrícia: “Se durante a graduação eles aprendem o básico para poder participar de uma pesquisa, a vivência de um projeto como este mostra, na prática, várias etapas importantes da pesquisa, como a comissão de ética, a coleta do material e a fase da triagem, por exemplo.”
“Este é um projeto bem delineado e de grande impacto para a comunidade. Nossa expectativa é que todo o resultado gerado seja publicado em congressos e revistas de qualidade, contribuindo para alcançarmos um dos grandes objetivos da EUROIMMUN, que é ser reconhecida como líder científica em medicina diagnóstica”
Cláudia Fideles, especialista de Pesquisa & Desenvolvimento da EUROIMMUN Brasil
Para a EUROIMMUN Brasil, além da importância em analisar a soroprevalência de nove patógenos no município de São Caetano do Sul, para compreender a dinâmica destas doenças na população, o projeto vai ajudar a avaliar a eficácia de novas matrizes amostrais, de forma alternativa aos tubos de coleta convencionais, com maior praticidade de coleta, baixa invasividade e mais conforto para o paciente, como conta Claudia Fideles, especialista de Pesquisa & Desenvolvimento da EUROIMMUN Brasil: “Nós entendemos nossa responsabilidade com a comunidade e a importância de nos basearmos na ciência para buscar a inovação e melhoria contínua dos nossos produtos”, resume.
Até o momento, mais de 20 alunos da USCS já estiveram no Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (EUROInstitute) da EUROIMMUN Brasil, que tem como objetivo gerar e disseminar conhecimento. No final de agosto de 2023, todas as análises devem ser concluídas e a expectativa é que ocorra a publicação dos resultados até o fim deste ano.