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Euroimmun News Vacinação contra a dengue: Julio Croda conta ao EUROHub sobre projeto-piloto em Dourados (MS)

Vacinação contra a dengue: Julio Croda conta ao EUROHub sobre projeto-piloto em Dourados (MS)

07 de Fevereiro de 2024
Artigos & Matérias
Por equipe EUROHub, centro de geração e disseminação do saber científico da EUROIMMUN Brasil

A segunda maior cidade do Mato Grosso do Sul começou a vacinar sua população entre 4 e 59 anos em janeiro de 2024. Os dados coletados vão ajudar o Brasil - e o mundo - a garantir um melhor controle da doença infecciosa

Vivemos um momento de grande preocupação epidemiológica contra a dengue. Em 2023, o Brasil bateu o recorde anual com mais mortes causadas pela doença: foram 1.079 óbitos confirmados, o maior número já registrado pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan online). Além disso, temos acompanhado no noticiário o ressurgimento dos sorotipos 3 e 4, responsáveis por quadros graves e que não circulavam há anos no Brasil. 

O começo de 2024 não traz melhorias nesse cenário. O Distrito Federal decretou estado de emergência já na última semana de janeiro. No Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, por exemplo, foram mais de 10 mil diagnósticos positivos apenas nas duas primeiras semanas do ano, o que significa um aumento de 958% em relação ao mesmo período em 2023. Rio de Janeiro e Minas Gerais também registram mais casos, bem como Acre, Amazonas e Roraima.

Tudo isso acende o alerta para uma possível epidemia, e é exatamente por isso que a incorporação da vacina contra a dengue no Programa Nacional de Imunizações (PNI) é uma excelente notícia. O imunizante está disponível na rede privada desde março de 2023, no entanto, o Brasil é o primeiro país do mundo a oferecê-lo de forma gratuita, no sistema público universal.

O ponto é que ainda não há doses disponíveis para todos. Neste momento, a estratégia inicial é imunizar o público-alvo de regiões endêmicas, segundo o Ministério da Saúde, começando por crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos - faixa etária que concentra o maior número de hospitalizações por dengue. Pessoas com mais de 60 anos, por sua vez, ainda terão que aguardar mais, pois a única vacina disponível, a Qdenga®, do laboratório Takeda,  só tem a autorização da Anvisa para ser aplicada entre os 4 e 59 anos de idade.

Por tudo isso, o projeto-piloto que acontece agora na cidade de Dourados (MS) é tão importante, já que conseguirá aplicar 300 mil doses da vacina em 150 mil pessoas para, em um futuro próximo, medir os efeitos e benefícios da imunização em massa, conforme explicou ao EUROHub o Prof. Dr. Julio Croda, médico infectologista pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e coordenador do projeto: “Nosso objetivo é vacinar entre 60% e 75% da população de Dourados para que a gente possa, nos próximos anos, seguir os impactos dessa vacinação em massa.”

Uma revolução contra a dengue

O estudo em Dourados foi desenhado para que seja possível entender se a vacinação de uma grande parcela da população de uma cidade endêmica da dengue consegue reduzir o número de casos - tanto de hospitalização, quanto de óbitos pela doença. Croda deixa claro que os dados de quem foi vacinado serão comparados com quem não recebeu a dose, inclusive de pessoas de outras faixas etárias que não podem ser vacinadas (menores de 4 anos ou acima de 60 anos), e também com a população de uma cidade próxima, Ponta Porã, 100 quilômetros distante e que apresenta a mesma sazonalidade da dengue.

Assista à entrevista completa do EUROHub com Julio Croda aqui

“Os segmentos do nosso acompanhamento serão com as bases secundárias da vigilância sanitária, através do sistema e-SUS AB e a ferramenta de Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), disponível em todas as Unidades Básicas de Saúde e que cadastram as vacinações realizadas. Já o desfecho será acompanhado por meio do Sinan e do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), o sistema público de realização de exames diagnósticos”, descreve o pesquisador.

O projeto na cidade de Dourados (MS) tem por objetivo avaliar, nos próximos três anos, o impacto da vacinação em massa em números de casos, hospitalização e óbitos, além de acompanhar a circulação de sorotipos diferentes da dengue

A depender do percentual da população vacinada contra a dengue, o projeto de Dourados ainda poderá acompanhar a chamada imunidade coletiva, ou de rebanho, em outros grupos etários não vacinados. 

 

Em busca de evidência

O projeto de estudo em Dourados (MS) foi elaborado antes mesmo do Ministério da Saúde aprovar a inclusão da vacina da dengue no PNI, para gerar mais evidência científica de impacto sobre um imunizante já aprovado pela Anvisa. “Os ensaios clínicos 1, 2 e 3, que avaliam a eficácia e a segurança da vacina, são pensados apenas no nível individual. A nossa proposta com esse estudo é avaliar o impacto como medida de saúde pública”, diz Croda. 

“A vacina contra a dengue tem uma eficácia elevada para prevenir os casos sintomáticos. O que vamos medir com nosso estudo
é como isso pode impactar na circulação viral em determinada região e se vai ou não gerar imunidade coletiva”

 

 

Prof. Dr. Julio Croda, médico infectologista pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz,
Professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) 

O pesquisador deixa claro que esses dados não interferem na aprovação e no registro de uma nova vacina, mas que são fundamentais para que qualquer sistema público de saúde possa ofertar o imunizante para a sua população: “Esse tipo de estudo é muito importante para o Sistema Único de Saúde (SUS) ou o Ministério da Saúde, no sentido de poder colaborar para ampliar a estratégia de prevenção da doença com mais um componente - no caso, a vacina.”

Outro ponto que o estudo de Dourados pode ajudar a avaliar é a segurança e a eficácia da vacinação em relação aos diferentes sorotipos do vírus da dengue. Esses dados foram confirmados nos estudos de fase 3 conduzidos pelo fabricante, mas é possível ir além, como revela Croda: “Os estudos clínicos de fase 3 da Qdenga® conduzidos até o momento mostram que a vacina é eficaz e segura.  Só que eles foram realizados na América Latina e no Sudeste Asiático, duas regiões que tinham a prevalência dos sorotipos 1 e 2 da doença durante o período de avaliação da vacina. Houve pouca circulação de sorotipo 3 e quase nenhuma do sorotipo 4. ”

O estudo de Dourados, por sua vez, tem contato com pessoas que já tiveram os sorotipos 3 e 4 da dengue e, como a região é endêmica, é possível ter um número suficiente de dados para avaliar como a vacina reage nesses pacientes. Já em pessoas soronegativas, normalmente crianças que adquirem a dengue pela primeira vez na infância, os dados devem ser mais escassos. “É justamente por isso que são necessários mais estudos complementares de fase 4 - como esse que estamos conduzindo - para estimar a efetividade da vacina, ou seja, a estimativa da eficácia na vida real”, diz Croda.


Mais doses necessárias

O Brasil tem uma população de mais de 214 milhões de pessoas e a dengue acomete indivíduos de todas as faixas etárias e classes sociais. Nesse cenário, todo brasileiro deverá se vacinar, mas hoje existe uma limitação da produção da vacina. 

Este ano, o Ministério da Saúde anunciou que receberá 5,2 milhões de doses da Qdenga®, com a expectativa desse número subir para 9 milhões em 2025 - lembrando que cada pessoa recebe duas doses para a imunização completa. “Mas diante da gravidade da dengue, isso ainda é pouco”, constata Croda. “É por isso que vamos precisar não só de mais doses da Qdenga®, da Takeda, como do Instituto Butantan, que está em fase final de estudo para a aprovação de seu imunizante - de dose única. A previsão é que o registro chegue no fim deste ano e em 2025 comece a produção para a vacina estar disponível ao Ministério da Saúde em 2026. A meta é chegar a 50 milhões de doses produzidas anualmente.” 

Os anos de 2024 e 2025 ainda serão limitados na oferta da vacina contra a dengue. Mas, a partir de 2026, será possível expandir a
imunização para um maior grupo populacional

 

Cenário atual preocupa

Com o aumento dos casos sintomáticos nos Estados e as internações, muitos já estão percebendo a necessidade de ampliar a rede hospitalar, elevando o número de leitos, as salas de hidratação e até contratando mais profissionais. “E é bom frisar que estamos no início dessa epidemia. O pico, a depender do Estado, acontece entre março e abril ou até entre abril e maio. Temos, portanto, alguns meses para observar uma crescente ainda maior no número de casos. Se, em 2023, o Brasil foi o país do mundo com recorde casos da doença, para este ano o próprio Ministério da Saúde já admite que os números serão ainda maiores ”, enfatiza o especialista. 

O trabalho de prevenção dos focos do mosquito deve continuar a ser prioridade - do setor público e da própria população - mas é hora de gestores públicos terem um plano de contenção para a dengue, focando na rede de atendimento, indica Croda: “Em muitos casos graves, a dengue mata por falta de hidratação. Por isso, a melhor medida para evitar óbito é o atendimento precoce e adequado.”

 

Testagem para a dengue

A testagem para a dengue, que confirma o diagnóstico e aponta o sorotipo do vírus presente no paciente, deve ser feita de forma rotineira sempre que houver um início de epidemia. “No momento em que houver um número elevado de casos apresentando a síndrome febril característica da doença, não é mais necessária a testagem de rotina para todos os casos, por conta do custo-efetividade. O importante, nesse cenário, é que haja uma vigilância genômica por amostra [seja uma cidade, ou um bairro], feita com material coletado entre os dias 3 e 5 de sintomas para que o PCR e o sequenciamento sejam realizados. Essa estratégia ajuda a monitorar os sorotipos do vírus da dengue que estão circulando, e é uma informação importante já que a presença de sorotipos que não circulavam há tempos indica a severidade de uma epidemia”, explica Croda. 

Ele adiciona que a testagem também é importante nos períodos interepidêmicos (de baixa circulação do vírus), para capturar tendências não usuais e a introdução de novos sorotipos em uma determinada região. “Além disso, existem outras arboviroses, como zika e chikungunya, com sintomas similares aos da dengue. Por isso, vale a pena ter uma parcela da população testada”, diz o pesquisador, deixando claro que em regiões como o Amazonas, em que ocorre a circulação dessas arboviroses e mais a Febre do Mayaro, é recomendada a testagem em todos. 

Para nenhuma das arboviroses há um tratamento antiviral específico, portanto, a conduta médica não muda, segundo Croda: “Normalmente, são observados os sintomas e sinais de alarme, é realizada a hidratação e ocorre a internação hospitalar quando necessário”.


Materiais de apoio:
Julio Croda: ‘É uma revolução no cenário epidemiológico ter a vacina da dengue disponível no SUS’
Boletim Epidemiológico - Volume 54 - nº 13 - Monitoramento das arboviroses urbanas: semanas epidemiológicas 1 a 35 de 2023
Ministério da Saúde anuncia estratégia de vacinação contra a dengue

 

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