Enquanto os casos de COVID-19 não paravam de crescer e a pandemia vivia seu pior momento, um outro tipo de infecção que sempre preocupou os brasileiros teve uma variação negativa bastante inesperada de infectados: as arboviroses.
Surpreendentemente, os dados publicados semanalmente no Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde mostravam uma redução significativa nos registros de dengue, zika e chikungunya no País. À princípio, chegou-se a cogitar que a subnotificação e a confusão dos sintomas com a própria COVID-19 estavam entre os responsáveis pela queda, mas logo os estudos científicos conduzidos comprovaram que não foi esse o caso.
“Um estudo feito em parceria entre a EUROIMMUN Brasil e a Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e que acompanha de perto a população ribeirinha do município de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, foi um dos que não registrou casos recentes de dengue, zika e chikungunya, nos meses de 2021. Lembrando que essa é uma população que comumente tem índices de infecção elevados justamente por viver em área de incidência”, conta Michel Soane, gerente sênior de scientific affairs da EUROIMMUN Brasil.
Uma das explicações é que o isolamento social proposto pela pandemia de COVID-19 tenha provocado a queda das infecções por arbovírus. E em 2022 tudo mudou.
Com a flexibilização das medidas de distanciamento social e a volta de atividades importantes, como as escolas, a circulação de pessoas é maior e os casos registrados de dengue, zika e chikungunya voltaram a subir.
As pessoas também se sentem mais seguras para procurar serviços de Saúde emergenciais em casos sintomáticos, portanto, o monitoramento das arboviroses se aproxima dos números de antes da pandemia. Ao comparar os dados de 2022 e 2021, dá para notar que iniciamos o período com números bem acima do ano passado. Só em relação à dengue, houve um aumento de 43,5% na incidência, como mostra o gráfico abaixo. Lembrando que a partir da 7º semana epidemiológica acontece o período sazonal de alta dos casos no País.
Os casos notificados nas últimas semanas, somada ao período do ano mais propício às arboviroses, alerta para a observação dos sintomas típicos dessas doenças, como febre, dor articular e cansaço. Só que todos esses sinais também são característicos de COVID-19 e, por isso, os exames laboratoriais são ainda mais importantes neste momento para que seja feito o diagnóstico diferencial nos pacientes, especialmente na fase aguda.
Reprodução Agência Fiocruz de Notícias
No entanto, no Brasil ainda é comum que o diagnóstico de arboviroses aconteça de forma clínica: “normalmente, o médico analisa os sintomas relatados pelo paciente e utiliza esse conhecimento clínico associado ao conceito epidemiológico da região para chegar ao diagnóstico de arboviroses. Se, além disso, ele optasse pelos exames laboratoriais confirmatórios, teria mais respaldo para o diagnóstico diferencial”, recomenda Soane.
Existe hoje um arcabouço de testes laboratoriais que podem ser utilizados para o diagnóstico diferencial entre arboviroses como dengue, zika e chikungunya. “Para a dengue, por exemplo, além dos kits PCR na fase aguda da doença, existe a detecção por antígeno anti-NS1, que é uma proteína viral que, quando identificada no teste, indica a presença do vírus dengue no soro do paciente e confirma o diagnóstico”, explica Soane.
Na sorologia das arboviroses também é importante considerar que existem os tempos certos para a detecção correta da doença. “É muito difícil que o paciente procure o atendimento médico nessa primeira fase aguda de sintomas, em que ele está com uma alta de carga viral para que o PCR seja um exame de fato eficaz. Por isso, no caso das arboviroses, o teste de IgM também é usado como um indicativo de uma infecção aguda e precisa ser realizado entre 5 e 10 dias após o início dos sintomas e, em infecções secundárias, o IgG é um forte aliado no diagnóstico, visto apresentar um título elevado já no início da infecção”, reforça o especialista. Depois desse prazo, apenas o kit para detecção de IgG é recomendado, como vemos no gráfico abaixo.
Fonte: EUROIMMUN
A EUROIMMUN Brasil tem sido inovadora no desenvolvimento de kits diagnósticos para arboviroses desde a epidemia de Zika no Brasil, entre abril de 2015 e novembro de 2016, quando uma nova cepa do zika vírus aumentou os casos de microcefalia em bebês de grávidas contaminadas. “A EUROIMMUN foi a primeira empresa de medicina diagnóstica a desenvolver o teste ELISA para identificação do zika no Brasil e foi justamente este o kit usado na detecção da doença em todo o país”, relembra Soane.
E toda essa expertise e aprendizado em pesquisa & desenvolvimento tem sido aplicada no desenvolvimento de todos os kits diagnósticos desde então. “No caso dos exames para a dengue, por exemplo, antigamente eles eram baseados em cepas do vírus do tipo 2. Porém, com a evolução da medicina diagnóstica, hoje já existe o exame dengue tipo 1-4 IgM ELISA, que tem uma ótima sensibilidade (87,5%) e especificidade (99,4%) para os quatro subtipos da doença.”
Michel Soane deixa claro que mesmo com as altas porcentagens apresentadas, a reatividade cruzada ainda é uma dificuldade importante no diagnóstico de arboviroses, especialmente em um país endêmico como o Brasil, com alta circulação de diversos arbovírus. “A reatividade cruzada acontece principalmente em diagnósticos de patógenos da mesma família, como dengue e zika ou chikungunya com mayaro e isso é intrínseco a essa tecnologia”, diz, reforçando a necessidade de análise dos exames a partir do contexto clínico-epidemiológico.
“O diagnóstico diferencial das arboviroses é essencial para o acompanhamento clínico dos pacientes. Ao conhecer o vírus que está provocando os sintomas, dá para planejar um melhor cuidado, especialmente em casos de reinfecção, ocasionando por exemplo a dengue hemorrágica”
Michel Soane, gerente sênior de scientific affairs da EUROIMMUN Brasil
Há ainda um outro tipo de teste possível, realizado pela técnica de imunofluorescência, para facilitar o diagnóstico diferencial das arboviroses. O Mosaico Arbovírus 2 (IgG ou IgM) é formado por vários biochips, cada um deles com uma célula transfectada que é uma porção da proteína NS1 para a detecção de dengue 1-4, chikungunya e zika a partir da mesma amostra de soro do paciente. “Embora os anticorpos sejam parecidos para vírus da mesma família, graças à tecnologia do DNA recombinante, se esse anticorpo não for muito específico ele terá uma afinidade menor de ligação com a proteína viral sensibilizada presente no biochip, gerando uma fluorescência mais fraca”, explica Soane. Em estudos clínicos feitos com o mosaico IIFT foi produzida uma alta sensibilidade (IgG 97% e IgM 99%) e especificidade (IgG 96% e IgM 96%) de detecção.
Todos esses kits diagnósticos para as arboviroses são também padronizados para DBS, garantindo que essa amostra com sangue seco tenha uma alta estabilidade até chegar ao centro diagnóstico para ser analisada. Isso, claro, facilita a chegada do diagnóstico diferencial até mesmo em regiões remotas do País.
Para tirar todas as possíveis dúvidas no uso dos kits, o EUROHub está prestes a lançar uma plataforma de EAD para a maior disseminação de conhecimento científico na medicina diagnóstica, sempre visando a segurança e o correto diagnóstico de cada paciente brasileiro.