Síndromes paraneoplásicas são condições raras, no entanto, estima-se que cerca de um a cada cinco pacientes com câncer (20%) sofra com suas crises, que podem ocorrer em diferentes órgãos devido a uma reação autoimune provocada por certos tipos de anticorpos ativados na presença de um tumor ou durante o processo de instalação desse tumor, em uma fase ainda pré-câncer.
No caso específico da síndrome paraneoplásica neurológica, é comum que o paciente experimente sintomas de uma neuropatia periférica, tais como fraqueza motora, perda de sentidos e ausência de reflexos. A presença clínica desses sintomas costuma levar o médico neurologista a investigar a paraneoplasia neurológica, como alerta a Dra. Giuliana França, biomédica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP/USP) e fundadora do ÓBVIO Laboratório: “A depender do anticorpo encontrado no exame, o médico é direcionado para uma investigação ainda mais específica em busca de um tumor no pulmão, no ovário ou na mama, por exemplo”.
O teste multiparamétrico pode detectar diferentes tipos de autoanticorpos mesmo antes de o tumor estar instalado no organismo. Com essa informação, é possível acompanhar a evolução do paciente a cada seis meses para que o câncer possa ser diagnosticado ainda precocemente
Sempre que um sintoma neurológico clínico aparece em pacientes com câncer é importante que o exame de detecção de autoanticorpos seja feito. Antes, o teste EUROLINE para síndrome paraneoplásica neurológica identificava a presença de seis autoanticorpos, mas, a partir de pedidos recebidos de clientes como a própria Dra. Giuliana, o teste da EUROIMMUN Brasil foi agora ampliado para a detecção qualitativa de 12 anticorpos diferentes: Anfifisina, CV2, PNMA2 (Ma/Ta), Ri, Yo, Hu, Recoverina, SOX1, Titina, Zic4, GAD65 e Tr(DNER).
O teste pode ser realizado em amostras de soro ou plasma e também no líquor, a depender do critério do médico neurologista na hora de solicitar o exame. “Dependendo do tipo de tumor, as células tumorais expressam antígenos, e anfifisina, CV2/CRMP5, PNMA2 (Ma2/Ta), Ri, Yo ou Hu, que podem induzir a formação de anticorpos específicos. Estes anticorpos ligam-se aos respectivos antígenos localizados no tecido nervoso e estão, muito provavelmente, envolvidos em distúrbios neurológicos. A detecção de anticorpos na síndrome paraneoplásica neurológica é, portanto, muito útil no diagnóstico de tumores em seus estágios iniciais”, explica Fernanda Atílio, biomédica e especialista em produtos da EUROIMMUN Brasil.
De acordo com as diretrizes da Sociedade Alemã de Neurologia, a síndrome paraneoplásica neurológica deve ser sempre determinada utilizando pelo menos dois métodos não relacionados, como explica Fernanda: “Além da imunofluorescência indireta, feita com mosaicos BIOCHIP para Neurologia, os antígenos neuronais EUROLINE Profile podem ser usados para comparar e confirmar resultados de testes. E esses resultados só devem ser utilizados para diagnóstico quando ambos os testes forem congruentes na determinação qualitativa e/ou quantitativa e estiverem alinhados com os sintomas clínicos do paciente.”
Para a laboratorista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, além do diagnóstico, a busca dos autoanticorpos pode também ser bastante importante para acompanhamento do quadro, a fim de atuar no momento de formação do tumor.
Dra. Giuliana trabalha desde 2010 no HC-FMRP/USP realizando, através do Sistema Único de Saúde (SUS), exames de anticorpos em Neurologia também com a técnica Imunoblot, entre outras. “E, dos 364 exames que realizei para a síndrome paraneoplásica neurológica, apenas 12 testaram positivo, o que demonstra o quanto a condição pode ser rara, mesmo com a especificidade e a sensibilidade excelentes que o teste possui”, diz.
Você sabe o que é a síndrome paraneoplásica neurológica? É definida como uma síndrome clínica neurológica que acompanha tumores malignos, mas não é causada diretamente por eles ou por suas metástases, nem são de origem vascular ou infecciosa, e não resultam de efeitos colaterais relacionados ao tratamento do câncer. É causada por mecanismos imunológicos liberados pelo tumor, que exercem efeito distalmente ao local do tumor primário e/ou metastático.
Para a laboratorista, o novo teste, que amplia a busca diagnóstica para 12 anticorpos específicos, aumenta a possibilidade de pacientes com sintomas clínicos saberem o diagnóstico: “Talvez, alguns dos pacientes que eu mesma testei e resultaram em negativo poderiam positivar para os antígenos que estão sendo lançados agora”, comenta Dra. Giuliana.
“Com a evolução dos testes e a ampliação de anticorpos do painel, os médicos podem sentir ainda mais segurança em pedir o exame e, com o resultado, prescrever um tratamento mais assertivo e mais personalizado para os pacientes com sintomas da síndrome paraneoplásica neurológica”,
Dra. Giuliana França. biomédica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP/USP) e founder do ÓBVIO Laboratório
O EUROLINE ampliado para a detecção de 12 anticorpos contra a síndrome paraneoplásica neurológica é um painel bastante simples de ser realizado, a partir do suporte oferecido pela EUROIMMUN Brasil. É realizado com tiras de teste revestidas com linhas paralelas de antígenos altamente purificados e fragmentos de antígenos. Para a avaliação qualitativa de tiras de teste incubadas, é utilizado o software EUROLineScan, que permite a detecção do anticorpo na amostra do paciente e, consequentemente, qual tumor é mais associado à sua presença.
Dra. Giuliana reforça, no entanto, que o Consenso Internacional requer que haja dois testes positivos, realizados através de metodologias diferentes, para a confirmação da síndrome paraneoplásica neurológica e, antes do EUROLINE que detecta imunoglobulinas da classe IgG da linha dos paraneoplásicos, o teste de triagem mais comum é o mosaico de Imunofluorescência feito com fragmentos de tecidos como cerebelo, intestino e nervo. “Nesse caso, a leitura das lâminas no microscópio requer um olhar atento e treinado do laboratorista, pois são as suspeitas visualizadas pelo profissional que direcionam o melhor teste confirmatório, que pode ser o EUROLINE ampliado, por exemplo”, explica a biomédica, que realiza as leituras do mosaico em Ribeirão Preto desde 2016, antes mesmo de existir a possibilidade do painel para a confirmação diagnóstica da síndrome paraneoplásica neurológica.
Ambos os testes devem ser realizados com a mesma amostra, lembrando que existe uma janela de tempo para o diagnóstico da doença, uma vez que o tratamento dos sintomas pode mascarar a detecção de certos anticorpos.
“Entre os maiores desafios do diagnóstico da síndrome paraneoplásica neurológica estão a educação médica, para a divulgação do conhecimento da existência do exame, o treinamento do laboratorista para a leitura confiável dos mosaicos e, finalmente, o acesso a esse tipo de exame em pacientes de todo o Brasil”
Dra. Giuliana França. biomédica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP/USP) e founder do ÓBVIO Laboratório