Há pouco tempo conheci de perto a estrutura, os projetos e as pessoas da EUROIMMUN México, na minha primeira visita ao país desde que assumi o cargo de Diretor Regional de Negócios LATAM & África, juntamente da posição de líder no Brasil. Estive por lá na semana anterior ao do dia 16 de setembro, quando os mexicanos comemoram o Dia do Grito, um marco histórico pela independência desse povo. E essa experiência me levou a analisar mais profundamente os diferentes estilos de liderança.
Para construir meu ponto, preciso explicar para quem não sabe - como eu não sabia - o significado do 16 de setembro de 1810. Nesta data, um único homem, Miguel Hidalgo y Costilla, iniciou uma revolta contra a colonização espanhola a partir da cidade de Dolores. Ao tocar o sino da igreja local, convocou a população a se manifestar junto a ele, momento considerado, hoje, o início da revolução mexicana. Ela durou 11 anos até, finalmente, culminar na independência do México. Até hoje, anualmente, toda noite do dia 15 de setembro, o presidente do país toca um sino e dá o Grito, dando início a uma festa patriótica repleta de orgulho nacional.
Mas enquanto eu via meus colegas mexicanos animados com a comemoração, parei para pensar nessa história toda. Como conta a histíoria, parece que Miguel não quis saber de outros líderes e opiniões antes de tomar a decisão de tocar o sino. Descobri ainda que ele nem mesmo tinha uma horda de seguidores. Tudo leva a crer que tenha agido por impulso e sem muito suporte.
Você conhece algum líder assim?
No fim, Miguel conseguiu agregar mais pessoas à sua causa e chegar ao resultado esperado - a independência. Mas, para isso, foram necessários 11 anos de uma guerra brutal, que deixou mortos e feridos pelo caminho. Então, ainda que me pareça ter sido a direção correta, será que a forma foi a mais acertada?
Você já parou para refletir sobre o número de vezes que um líder de um departamento, de uma empresa ou até de uma região toma uma decisão unilateral? Agora compare com outras vezes em que esse mesmo líder opta por decidir de maneira mais alinhada e colaborativa. A diferença entre esses dois estilos de liderança pode ser medida em uma qualidade: autenticidade
Quando outras pessoas suportam uma decisão tomada em conjunto, a autenticidade da liderança costuma ser maior, enquanto o modelo top down - unilateral e resolutivo - é entendido como autoritarismo. Mas o ponto mais importante aqui é: será que os líderes tomam decisões simplesmente por que têm poder para isso, ou porque essa escolha é mesmo o melhor para as suas equipes?
Cada modelo de liderança - seja ela resolutiva ou democrática - tem um impacto particular na carreira do líder e na organização em que ele atua. E, não, não existe um manual de conduta único para todos, nem é possível que uma só pessoa consiga prever todas as consequências de uma decisão que será tomada. Por isso, é importante compartilharmos experiências vividas e tentar aprender com elas.
Como líder, eu mesmo já tive momentos em que tomei decisões do tipo top down e, com isso, coloquei minha carreira e reputação em risco. Afinal, quando uma decisão unilateral tem um resultado ruim, fica claro quem é o “culpado”. Também, como liderado, já me recusei a seguir uma decisão unilateral do chefe, e isso também foi custoso para mim, em muitos sentidos.
Só que não dá para simplesmente culpar esse estilo mais resolutivo, porque ele tem, em determinadas circunstâncias, uma vantagem importante: a velocidade da decisão. Consultar pares e liderados pode até ser mais democrático, mas leva tempo e, em última instância, pode comprometer até mesmo a inovação pela falta de consenso em certos assuntos. Portanto, me parece mais sensato que a escolha de um ou outro modelo de liderança ocorra em uma base situacional.
Se tivéssemos que avaliar o risco de cada decisão tomada, ninguém sairia de casa com uma espada na mão para lutar pela liberdade de um povo, como fez o líder mexicano em seu Dia do Grito
A maturidade na carreira de um líder certamente o ajuda a escolher por uma decisão individual ou coletiva, a depender do momento. Não estou dizendo que isso não traga riscos. No primeiro caso, embora a decisão seja mais veloz, é notável o impacto negativo no engajamento de uma equipe que sequer foi consultada antes de receber uma ordem. E isso, claro, pode dificultar a implantação das novas ideias.
Isso me faz pensar nas fábulas que ouvimos desde criança sobre os heróis das histórias - eles decidem sozinhos e são notavelmente rebeldes em relação às regras e orientações alheias.Se, no final do conto, o personagem será um herói ou apenas um rebelde, esse desfecho está muito mais ligado ao resultado em si da ação do que, efetivamente, da natureza da ação. Só que, no mundo real, esse resultado é algo que ninguém consegue prever. Convém, então, arriscar a liderança por uma decisão impulsiva?
Falarei por mim: as decisões mais importantes que já tomei - e as que deram mais certo - foram aquelas compartilhadas. Mas isso foi algo que eu percebi mudar ao longo da minha carreira.
Quando ocupava cargos mais baixos, eu tendia sim a tomar mais decisões unilaterais, pois o objetivo maior era apresentar o meu trabalho e, para isso, a velocidade importava. Hoje, no entanto, mitigo a falta de velocidade com um melhor nível de execução e previsibilidade de ações e erros, para que contramedidas possam ser pensadas antes da implantação de um projeto. E faço isso assumindo que o planejamento de uma decisão democrática normalmente demora um pouco mais.
Meu conselho para quem optar por seguir esse estilo de liderança é: valorize o follow up. E faça com que ele seja veloz. Se uma decisão está sendo tomada em equipe, estabeleça prazos - curtos - para que as ações possam ser feitas e o projeto avance. Se normalmente as reuniões de atualização são remarcadas para a próxima semana, experimente encontrar a equipe novamente no dia seguinte e partir desse ponto para avançar. Isso sim traz velocidade a uma decisão coletiva: reduzir os tempos de follow up para que todos caminhem a passos menores e conhecidos (e se você gostou da dica, ela não é minha, foi retirada deste vídeo, que recomendo: How To Become Insanely Wealthy in 12 Months With No Connections & Money).
Por fim, quero reforçar que a maneira como penso hoje é uma consequência inevitável das minhas experiências e dos excelentes líderes que eu tive na minha carreira, entre eles Liliana Perez, Fábio Arcuri e Eduardo Takeshi, este último que acaba de lançar o livro “Histórias de Sucesso”, para o qual já pedi meu autógrafo. Com todos eles eu aprendi demais sobre o poder de uma liderança democrática. E é isso que busco passar adiante.
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*Marcos Philippsen é Diretor Regional de Negócios LATAM & África na EUROIMMUN Brasil, empresa de diagnóstico in vitro que une o saber científico, a excelência e o comprometimento com a vida para acelerar os avanços da medicina diagnóstica e, assim, construir uma sociedade mais saudável para todos.